terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Dia um.

O fecho das contas.


Podia mesmo calhar a 1 de Janeiro, que oficialmente é o meu primeiro dia como desempregada. Ou a dia 2 de Dezembro do ano passado, que foi o meu primeiro dia sem trabalhar. Mas o dia um desta história é este. 7 de Janeiro de 2014.

Voltei ao sítio onde, desta vez, trabalhei durante dezoito meses e meio. (Se calhar ponho aqui já este parênteses para explicar que, no meu primeiro despedimento, também foi desta casa que saí. Nessa altura foram dois anos e uns dias, mas esta é história para outra altura.) Voltei para "fazer as contas", como se costuma dizer. Para receber um cheque pequeniiino. (Mais um parênteses: da outra vez o cheque foi maior; não pelo tempo que lá estive, mas porque as contas se faziam de outra forma.)

Eu e a C., companheiras inseparáveis desta e de outras sagas, entrámos de olhos postos no chão e com passo apressado. Tínhamos pouca vontade de ver gente. Aquela casa diz-nos muito, e voltar lá nestas circunstâncias nunca poderia ser fácil. Mas, sobretudo, a vontade era pouca para três coisas: sorrisos amarelos, conversas vazias (nós percebemos o esforço, a sério, mas...) e abraços daqueles que derrubam as defesas e esborratam a maquilhagem. Por tudo isto, entrámos tão discretamente quanto conseguimos. E a verdade é que, entre entrada e saída, só nos cruzámos com meia dúzia de pessoas e a experiência nem correu nada mal.

Contas feitas, e mais um adeus àquele lugar. Sem lágrimas nem ressentimentos. E de olhos postos no futuro: assim que pus os pés em casa, agarrei-me ao Facebook e escrevi o meu post mais partilhado de sempre. 

"Sei fazer um pouco de tudo aquilo que se faz em rádio.
Mas diz quem percebe mesmo do assunto que sou muito boa a rever textos.
E tenho jeito para organizar coisas  quer papelada, quer eventos.
Além disto tudo, sou feliz a cozinhar.
Começo 2014 pobrezinha e sem emprego. Por isso, se precisarem de uma locutora ou de uma produtora, de textos revistos, de uma secretária, de alguém que organize eventos ou de uma pequena iguaria, já sabem.
Garanto-vos que sou boa moça e muito trabalhadora."

(Ok. Ainda só vai em doze partilhas, mas eu não sou actriz de novelas, não jogo à bola nem fui concorrente de coisa nenhuma. Por isso deixem-me acreditar que estou a fazer sucesso.)

Este é o meu dia um como desempregada. (Não é que Dezembro não tenha contado. Até contou. Só que o Natal é uma das minhas alturas preferidas, por isso fiz por dedicar o meu pensamento à consoada e aos postais que queria enviar.) A realidade chegou. Estou optimista, mas sinto-me... estranha. É o único termo que me ocorre.

Amanhã hei-de ir a um sítio que todos os desempregados adoram. Chama-se centro de emprego. Levo vinte minutos a chegar lá a pé, e o caminho é sempre a subir. A parte boa é que para cá é a descer –  e já se sabe que "para cá" uma pessoa vem (ainda) mais desmotivada. Calha bem.

2 comentários:

  1. Sofia, como eu te entendo. também iniciei este novo ano na mesma situação , tal como diz o IEFP, com um problema de emprego. O pio é que tenho mais 11 anos que tu , 2 filhos adolescentes, e um marido com o mesmo problema de emprego . Em 15 anos de trabalho é a primeira vez que estou nesta situação, e sinceramente , hoje já é dia 23 e ja estou saturada de estar desempregada, sem falar que de subsidios ainda nada sei, e tenho as contas por pagar, mas lá vamos nós para a apresentação quinzenal, e para as sessões de esclarecimento, lá tenho que ir para uma formação transversal.(diz que para os licenciados, não têm muito mais para oferecer) Mas como sou uma "valente", tal como tu , penso positivo.... e quem sabe se este Novo ano , não será uma oportunidade de criar o meu próprio emprego.... Desejo te muita sorte, e claro que encontres algo na tua área.

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    1. Com as respectivas diferenças... mas é tudo isso. Tudo, tudo isso.
      Boa sorte! E valentia, claro. Sempre. :)

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