Quando o telefone toca. (Não. Não estou a falar do programa de rádio dos anos 60. Embora adorasse a ideia.)
Quando o telefone toca. Melhor dizendo: quando o telefone toca e no ecrã, tchanan, aparece um número que não conhecemos. Isto numa altura em que já enviámos coisa de 257 currículos, e quando, além do mais, estamos a aguardar ansiosamente duas ou três respostas.
Sempre que isto acontece alguém devia fotografar-nos. Ou filmar-nos, até, para captar o momento em toda a plenitude. O nervoso miudinho. A cara de "ai, Jesus...". Os passinhos atarantados. E depois há o resto – aquilo que a câmara não capta. Quem já passou por isto sabe bem como é. A cabeça começa a pensar muito depressa, muito depressa, muito depressa:
"Ai, ai, ai. Se calhar é de sítio tal. Ou então é x. Ai, quem me dera que fosse y. E se for? O que é que eu faço? Se calhar é melhor não atender o telefone aqui. E o que é que eu tenho para fazer hoje? E amanhã? Havia qualquer coisa, não era? Bom, não interessa. E se for para marcar uma entrevista? Preciso de papel e de uma caneta. Acho que tenho de me sentar. E, daí, se calhar é melhor ficar de pé. Ai, que dor de barriga."
Tudo isto, e muito mais, em cinco segundos – convém não ficar muito tempo nestes preparos, não vá quem está do outro lado desligar. Desistir. Para sempre.
Depois destes cinco segundos (no máximo!) de pura reflexão prática e existencial, onde o futuro é ponderado até à milésima quinta casa, e estando já o estômago enrolado a pontos de ficar do tamanho de uma uva... Atendemos.
E a parte emocionante costuma terminar aqui. Porque, do outro lado, ou está um senhor de uma operadora de telecomunicações, ou um senhor de um banco a querer impingir-nos o-melhor-cartão-de-crédito-de-sempre, ou um senhor a tentar convencer-nos a fazer um seguro de saúde.
Bom, às vezes também estão senhoras.
been there, felt that!
ResponderEliminar