quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Dia dez.

Quando o telefone toca. (Não. Não estou a falar do programa de rádio dos anos 60. Embora adorasse a ideia.)


Quando o telefone toca. Melhor dizendo: quando o telefone toca e no ecrã, tchanan, aparece um número que não conhecemos. Isto numa altura em que já enviámos coisa de 257 currículos, e quando, além do mais, estamos a aguardar ansiosamente duas ou três respostas.

Sempre que isto acontece alguém devia fotografar-nos. Ou filmar-nos, até, para captar o momento em toda a plenitude. O nervoso miudinho. A cara de "ai, Jesus...". Os passinhos atarantados. E depois há o resto – aquilo que a câmara não capta. Quem já passou por isto sabe bem como é. A cabeça começa a pensar muito depressa, muito depressa, muito depressa:

"Ai, ai, ai. Se calhar é de sítio tal. Ou então é x. Ai, quem me dera que fosse y. E se for? O que é que eu faço? Se calhar é melhor não atender o telefone aqui. E o que é que eu tenho para fazer hoje? E amanhã? Havia qualquer coisa, não era? Bom, não interessa. E se for para marcar uma entrevista? Preciso de papel e de uma caneta. Acho que tenho de me sentar. E, daí, se calhar é melhor ficar de pé. Ai, que dor de barriga."

Tudo isto, e muito mais, em cinco segundos  convém não ficar muito tempo nestes preparos, não vá quem está do outro lado desligar. Desistir. Para sempre.

Depois destes cinco segundos (no máximo!) de pura reflexão prática e existencial, onde o futuro é ponderado até à milésima quinta casa, e estando já o estômago enrolado a pontos de ficar do tamanho de uma uva... Atendemos.

E a parte emocionante costuma terminar aqui. Porque, do outro lado, ou está um senhor de uma operadora de telecomunicações, ou um senhor de um banco a querer impingir-nos o-melhor-cartão-de-crédito-de-sempre, ou um senhor a tentar convencer-nos a fazer um seguro de saúde.

Bom, às vezes também estão senhoras.

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