terça-feira, 1 de abril de 2014

Dia um.

Nova contagem.


Este blogue termina aqui. Hoje. Oitenta e cinco dias depois de ter começado. Num dia que não é só de mentiras e que é o primeiro da mais recente etapa.

Obrigada pela companhia. Obrigada pela viagem. Obrigada a quem o leu todos os dias, a quem cá veio de vez em quando e a quem só cá esteve de passagem. Obrigada pelas palavras (em jeito de incentivo, desabafo, crítica ou sugestão).

E, acima de tudo, obrigada à primeira pessoa a quem falei dele, numa noite fria, na sala do Nimas. Quando, muito antes de ser um blogue, era apenas uma ideia. Talvez nunca tivesse passado daí se não fosse essa conversa. E talvez não tivesse seguido em frente se não fossem tantas outras.

Até breve.

:)

segunda-feira, 31 de março de 2014

Dia oitenta e quatro.

Balanço.


Quando comecei este blogue, fi-lo porque gosto de escrever. E de trabalhar com escrita. Ora, quando surgem vagas para empregos relacionados com "texto", o mais habitual é pedirem-nos exemplos. E eu, antes de mais, queria ter aqui isso mesmo  um exemplo. Uma prova de que escrevo e de que, à falta de mais e melhor, pelo menos sei pôr vírgulas no sítio. E uma prova rápida de enviar, de mostrar, de ver.

E tudo isto também começou porque senti necessidade de me "mostrar". Não sou assim tão extrovertida, não gosto de holofotes e acho-me tudo menos brilhante. Mas dizia-me a experiência (a minha e a de quem me rodeia) que ficar parada, limitando-me a enviar currículos, não me havia de levar muito longe. Era preciso mais. Era preciso chegar mais além. O blogue pareceu-me um bom companheiro para essa viagem e o Facebook só poderia ser, claro, o transporte ideal. Não fosse ele (e, através dele, a SIC...) e estas escritas não teriam mil e duzentos seguidores. Não fosse ele e boa parte das pessoas que me conhecem nem sequer saberia que eu estava desempregada (sendo que muitas delas trabalham na minha área). Não fosse ele e eu nunca teria chegado a saber de certas vagas. (Por outro lado, não fosse ele e o estranho mundo das entrevistas e propostas "obscuras" ter-me-ia passado ao lado.)

Foi um longo caminho. Não tão longo assim, em termos de tempo, quando comparado com outros. Mas longo  é-o sempre quando não temos emprego, quando não sabemos o que virá a seguir, nem quando virá, nem como. Um caminho feito de oitenta e quatro dias aqui, e de mais alguns antes disto. E feito com muita gente à volta, desde os que me são mais próximos àqueles que nem conheço mas que partilharam algo comigo: em leituras, em moderníssimos likes, em comentários e em mails. Pediram-me conselhos que não soube dar (quem sou eu para tal coisa, aliás?), partilharam experiências, alegrias e frustrações "só porque sim", ficaram felizes quando souberam que a minha vida mudou, disseram que iam ter saudades de ler algo novo aqui todos os dias. E, a todas estas pessoas, eu nunca saberei o que dizer.

Escrever obrigou-me a pensar (mais ainda do que aquilo que já é normal em mim  quem me conhece sabe que sou dada a pensar demais). Houve dias fáceis e difíceis  para o ânimo e para a escrita. Dias em que não faltava assunto e dias em que não sabia o que escrever. (Hoje sei que houve duas ou três coisas que ficaram por dizer aqui, mas agora o tempo delas passou.) Dias em que tinha muito tempo e outros em que não tinha tempo nenhum. Dias de sol, de chuva, de constipação, de inflamação nas costelas, de sorrisos e de lágrimas, de conquistas e de medos, de falta de mimo e de tanto mimo que nem me apetecia interrompê-lo com um computador. Dias sim e dias não. Mas nunca me esqueci. E só faltei uma vez à chamada  piquei o ponto mas fui embora a seguir, porque nesse dia não havia escrita possível.

Referi-me a este blogue há uns dias como "uma empreitada". E foi isso mesmo. Uma empreitada. Das boas. Este foi o meu projecto.

E acho que vou ter saudades dele.

Começo amanhã.

domingo, 30 de março de 2014

Dia oitenta e três.

O meu novo emprego.


O meu novo emprego não é em rádio, como todos os que tive até agora. Não vou trabalhar com a voz, nem com som, nem num estúdio.

Vou trabalhar com escrita. Com notícias. Com internet. Com suplementos, portais, sites, conteúdos. Alguma imagem. Muito texto.

Vou produzir, que é coisa que já aprendi a fazer há uns anos. Mas há sempre espaço para aprender mais – e vou aprender muito, porque num novo emprego aprende-se sempre e porque aqui o tema é muito específico (e novo para mim).

E vou trabalhar muito, também. Muito, muito. Mais do que um desafio, à minha frente estão dois: o de um novo emprego e o de conseguir gerir o tempo. Entre aquele que o trabalho irá absorver e aquele que restará, só me resta organizar-me, fazer figas, rezar para que não doa muito e seguir em frente.

sábado, 29 de março de 2014

Dia oitenta e dois.

O último fim-de-semana.


O último fim-de-semana já nem sequer é digno desse nome. Só lho dou porque é o que vem no calendário. O último fim-de-semana serve para pensar no que aí vem, preparar material e estratégias e arrumar ideias. Ocorre-nos aquilo que o tempo sem emprego nos deu e nos tirou, reflecte-se sobre o que vem a seguir, fazem-se balanços dos últimos tempos.

No fundo, são dois dias para fechar um ciclo e abrir portas a mudanças e novidades.

Dois dias entre um piquinho de nostalgia e outro de ansiedade. E com aquele frio na barriga próprio de quando nos aproximamos de algo novo e desconhecido.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Dia oitenta e um.

Sobre aquilo que somos, afinal.


A pergunta é habitual. Surge de várias formas. A aflitiva é uma das mais comuns: "o que é que tu és?".

Afinal, o que é que nós somos? Somos engenheiros porque nos licenciámos em engenharia? Somos jornalistas porque tirámos um curso de jornalismo? Não sei. Se estudámos enfermagem e nunca trabalhámos como enfermeiros, o que é que somos? A teoria indica uma resposta mas a prática sugere outra.

Quando já deixámos vários trabalhos para trás, todos diferentes, qual deles é que somos? Aquele de que gostámos mais? Aquele que fizemos mais tempo? Aquele em que mais aprendemos? Aquele que era na nossa área? E se não houve nenhum na nossa área? E se houve dois ou três? E se não gostámos de nenhum? E se nos vemos como sendo várias daquelas profissões?

E se não nos vemos em nenhuma delas? Se, no fundo, achamos que somos algo... que ainda não fomos?

E quando já fomos algo que entretanto deixámos de ser? É essa a nossa profissão? Podemos querer voltar a tê-la ou não. O que é que se diz? Varia consoante quem nos faz a pergunta? Se calhar, para a família dizemos ser e para o potencial empregador apostamos no b. Ou no c. Depende. E o ponto de vista também varia segundo quem nos conhece, porque uns cruzaram-se connosco quando éramos e outros trabalharam na secretária à nossa frente quando fomos y.

Somos a primeira profissão que nos ocorre, a última que tivemos ou aquela a que sempre aspirámos? Somos aquilo que gostamos realmente de ser ou somos aquilo que a vida nos foi impondo?

Para a pergunta "o que é que tu fazes?", a resposta é fácil. Mas, se a versão apresentada for "o que é que tu és?", a história é outra. E, se neste momento alguém me perguntar o que é que eu sou, por incrível que pareça eu não sei responder. Sei identificar uma área. E gostos. E tudo o que já fui, oficialmente ou só porque sim. Sei o que ainda gostaria de ser. Sei o que serei a partir de dia 1.

Mas aquilo que sou realmente, acima de passado, presente ou futuro, é coisa que me escapa.